Em música muitas coisas são bastante práticas e objetivas. Como pegar o violão, ou como colocar o pé para apoiar o instrumento assado, como manusear uma palheta ou como tocar usando um determinado dedilhado… Agora, outras coisas, ainda que sendo práticas e objetivas não são tão palpáveis, tão concretas. Uma dessas coisas que é ao mesmo tempo concreta (pois precisamos muito dela) e abstrata (pois sua definição e ensino é bastante complexa) se resume na pergunta “O que é tom ou tonalidade de uma música?”. À partir de agora, vou explicar isso pra você.
Quando eu aprendi isso, há anos atrás, com algum professor particular, em algum curso realizado, ou em algum bate-papo com amigos mais experientes, tinha essa resposta quase sempre: “Tom é aquela nota na qual, a música, em 90% das vezes, repousa”.
Sempre desconfiei dessa definição, pois, se haviam 10% que não se encaixavam, não poderia ser uma resposta satisfatória.
E isso que eu imaginava, era verdade e não era, ao mesmo tempo!
Vou explicar pra você!
Era verdade em termos práticos pois de fato, 90% das vezes temos a última nota da canção como a mesma nota da tonalidade.
E é um conceito equivocado porque não basta sabermos qual é a nota. Temos de saber qual é o tom e… Tom é diferente de nota! Vou definir melhor isso…
Uma nota é uma nota. Tenho um post que você pode ler clicando AQUI e verificar o que compõe uma nota (e a diferencia de um Acorde, inclusive…). Não irei me repetir aqui explicando o que é uma nota. Mas posso resumir dizendo que em uma nota temos uma vibração de uma fonte sonora musical organizada pelas sequências harmônicas decorrentes desse som original.
E um tom? O que definiria um tom ou uma tonalidade musical?
A abstração acerca da possível definição sobre o que é, de fato, a tonalidade, me faz ficar com um pé atrás para essa explicação. Apenas te peço que siga comigo em meu raciocínio, de maneira que possa te levar à tal conceituação e compreensão.
Quando temos uma música, uma canção, o que acontece é como se fosse um passeio, por um caminho de notas. Pode parecer poético ou viajandão mas não é. É assim mesmo que se dá numa melodia, numa canção, numa música.
Você, resumidamente, tem movimentos de afastamento e aproximação desse local aonde muitos professores gostam de chamar de um espaço de relaxamento, de repouso, onde a melodia pode parar e, aparentemente, finalizar o passeio musical.
Quando a melodia se afasta desse local, quando ela está em um ambiente que vai saindo de perto desse repouso, é quando temos a oportunidade de criar movimentos diversos na música, de nos afastarmos dessa “monotonia”, dessa segurança… Esse movimento, na verdade esse local, esse lugar para onde a música vai nesse processo de afastamento, o pessoal da música chama de Subdominante, pois é um desligamento do repouso, da região tonal principal, região chamada assim de tônica.
A região de tônica é uma região atrativa, que puxa a melodia para si e que, por isso tem esse nome. Quando a região de subdominância sente o desejo de retornar, ela transita para o que seria uma espécie de atalho, um retorno, um caminho que se encadeia e se prepara para o retorno para a região forte e atrativa da Tônica.
A esse atalho/retorno/convenção/encadeamento, a essa região de volta para a Tônica, chamamos de região Dominante.
É à partir desse movimento que se retorna à Tônica.
E a Tônica, perceptivamente, é a região da Tonalidade.
Em música, temos esse jogo de gravitações, de atrações, de magnetismos que se dão o tempo todo, com afastamentos e retornos, com resvalos na Tônica e posteriores afastamentos, com transformações de Tônicas, umas em outras (as chamadas modulações), mas o que mais nos importa aqui é esse centro tonal, esse local que é quase um buraco negro de grande ação gravitacional. Essa nota fundamental que é a nota que se inicia na escala da tonalidade que determinada música se desenvolve.
Qualquer nota, não importa qual seja, se for a nº 1 da escala da música que está sendo tocada, será a nota principal da tonalidade, a que dará o nome da tonalidade.
Se a música for em Sol maior, a nota principal será a nota Sol. Se a música for em Sol menor, a nota principal será a nota Sol.
Entretanto não somente a nota define a tonalidade. Temos de saber também o modo da tonalidade, se é maior ou é menor. E para isso temos de saber reconhecer, imediatamente, a 3ª da tonalidade.
No exemplo dado, se for o Sol maior, a terça será a nota Si. Se for o Sol menor, a terça será a nota Si bemol.
Esse reconhecimento de uma tonalidade envolve então, até aqui:
1- Saber qual a nota em que a música repousa;
2- Saber, à partir dessa nota e conhecendo a melodia que a música toca, qual a 3ª, se é maior ou se é menor.
Então basta isso para se definir a tonalidade de uma música? Sim, basta isso.
Entretanto, é preciso que se saiba perceber ambos os quesitos, qual a nota de repouso e sua terça, se é maior ou menor.
Para que se consiga reconhecer a nota tônica, precisamos nos exercitar, do mesmo modo que exercitamos o reconhecimento de tonalidades cromáticas em uma tela de um artista plástico, ou se determinada roupa combina com outra para irmos a uma festa, um casamento ou um evento qualquer. Temos que, tecnicamente, observar qual é a nota em que uma melodia pode repousar e até mesmo parar, mesmo que seja no meio da música. Normalmente com uma ou duas frases musicais, no início de uma música, é possível se fazer tal reconhecimento.
Para isso utilizarei algumas canções populares simples para que você possa mentalmente se aperfeiçoar nessa percepção.
Parabéns pra você – Nota da tonalidade fica nas sílabas sublinhadas
–> “(…) muitos anos de vi–da
Ciranda cirandinha
–> “Ciranda cirandinha vamos todos ciran-dar”
Hino nacional
–> “Ouviram do Ipiranga às margens pláci-das”
Se essa rua fosse minha
–> “(…) eu mandava ladri-lhar (…)”
A sugestão que dou aos meus alunos é que cantem sempre a música toda e repitam o canto até o trecho indicado como a nota de repouso. Confiram depois se essa nota é ou não a mesma nota do final da música.
Veja que, muitas vezes essa nota se repete durante a música e, para chegar a ela, passamos pelas regiões já mencionadas (Subdominante e Dominante).
Após a realização desse estudo de percepção falta ainda saber se a 3ª da tonalidade é maior ou menor. Aí, como já falei antes, é questão de “acostumarmos o ouvido”. Cantar o intervalo de 3ª maior seguido do intervalo de 3ª menor ajuda muito na nossa compreensão dessa sutileza. Lembre-se que é questão de meio-tom e isso é muito sutil mesmo!
Observe a ilustração abaixo.
Treine ao seu violão esse intervalo, tocando a corda nº 3 (sol) solta e depois a corda nº 2 solta (si). Você terá aí, entre as notas sol e si, um intervalo de 3ª maior.
Depois toque a corda 3 e a aperte 3 casas acima fazendo a nota Si bemol. Você terá aí um intervalo de 3ª menor. Cante junto ambas as notas e fixe como se dão tais intervalos.
Após tal fixação, perceba se as músicas que apresentei são músicas que possuem a 3ª maior ou menor…
É um desafio difícil para quem nunca viu isso antes, mas por isso mesmo é interessante tentar.
O gabarito desse desafio está AQUI nesse link, onde você poderá conferir se as músicas são em tons maiores ou menores.
Um abraço e até a próxima!
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